PARTO NORMAL OU CESÁREA?

 

Algoritmo de inteligência artificial para analisar trabalho de parto trabalho de parto.
Algoritmo de inteligência artificial para analisar trabalho de parto trabalho de parto. Reprodução/Freepik

Parto normal ou cesárea?

A cesárea, se corretamente indicada, é salvadora, mas sem indicação envolve riscos adicionais significativos

Por Marianne Pinotti

 


Em tempos tão difíceis para nosso Brasil e para o mundo decidi falar de vida, de chegadas, de juventude, mães e bebês. Discutindo com quem nos lê questões sérias e sensíveis a respeito do nascimento, cujo acompanhamento é missão que escolhi inspirada por minha avó Anna Bove, educadora sanitária, que trabalhou muitos anos fazendo acompanhamento pré-natal, e com meu pai, Dr Pinotti, obstetra.

Hoje em dia, desde de o momento em que se decide engravidar, já temos alguns cuidados a tomar. Já não é suficiente o acompanhamento pré natal, precisamos garantir que a futura mamãe está saudável, de preferência se alimentando bem e fazendo exercícios físicos. É preciso iniciar a reposição de ácido fólico cerca de 3 meses antes de começar a tentar engravidar, ter o calendário vacinal em dia assim como sorologias para doenças infecto-contagiosas negativas (principalmente toxoplasmose e rubéola). Aí sim, após engravidar, iniciar seu acompanhamento pré-natal, em geral mensal, por toda a gestação.

Passado o primeiro trimestre da gestação (12 semanas) começamos a conversar sobre a via de parto, e com muita alegria tenho visto cada vez mais o desejo das gestantes por um parto normal e amamentação.

Na maioria dos países desenvolvidos, cerca de 15% a 25% dos partos precisam terminar por via abdominal, ou seja, cesárea. Mas desde a década de 1980 há uma preocupação mundial com o “abuso” de indicação de cesáreas. O Brasil constitui exceção estranha e ao mesmo tempo dramática. Segundo a Organização Mundial da Saúde, seu percentual é um dos maiores do mundo: está entre de 50% a 60%, mais do que o dobro do nível considerado compatível com boa assistência obstétrica. A cesárea, se corretamente indicada, é operação salvadora, tanto da vida da mamãe como da do bebê, mas sem indicação correta, além de não trazer benefícios, envolve riscos adicionais significativos por se tratar de uma cirurgia.

Além disso, no parto normal a criança segue um trajeto necessário e importante para o restabelecimento de modificações circulatórias e respiratórias, a fim de torná-lo um recém nascido com respiração autônoma. Ocorre a compressão do pulmão no canal do parto esvaziando-o de seu conteúdo líquido, e a transferência de sangue placentário, através da contração e retração do útero.

Além de todos os agravos para a saúde das mães e bebês esta epidemia de cesáreas ainda causa um problema econômico relevante. Um estudo da epidemia de cesáreas no Brasil, patrocinado pelo Banco Mundial, demonstrou que, para cada 1% a mais no número de cesáreas realizadas desnecessariamente, por ano, há gasto adicional de US$ 2 milhões com mães e recém-nascidos dada a grande incidência de problemas.

É muito importante que as mulheres se informem. Precisamos evitar que modismos e informações equivocadas nos induzam a erros imperdoáveis no século XXI, o exagero para o outro lado também é igualmente perigoso, quando a insistência em prosseguir num trabalho de parto difícil, onde seriam necessárias manobras arriscadas, prolongamento excessivo do tempo de parto, posições anômalas (bebê sentado ou transverso), bebês muito grandes ou pequenos, gestações gemelares, são todos casos onde devemos redobrar os cuidados.

Outra questão que considero grave é o parto domiciliar, quando sabemos que um dos maiores avanços da obstetrícia moderna foi o parto hospitalar, para oferecer a segurança necessária para a condução de um trabalho de parto seguro.

Nunca podemos esquecer que nós, obstetras, mamães e papais somos os responsáveis por acompanhar o maior milagre da vida que é o nascimento, lembrando sempre que NADA deve ser mais importante do que o bem estar da mãe e do bebê!


Fonte:https://oglobo.globo.com/blogs/receita-de-medico/post/2022/10/parto-normal-ou-cesarea.ghtml?utm_source=globo.com&utm_medium=oglobo



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