GRAVIDEZ DE GÊMEOS: TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

 

Gravidez de gêmeos: quais as chances? (Foto: Pexels/ Isaac Hermar)

Gravidez de gêmeos: quais as chances? (Foto: Pexels/ Isaac Hermar)

  • VANESSA LIMA
 ATUALIZADO EM 


Se gestar um bebê exige um esforço imenso do corpo de uma mulher, imagine quando são dois ou mais ao mesmo tempo. Isso sem falar no pós-parto e nos cuidados com os recém-nascidos fora da barriga! Por outro lado, a gravidez gemelar é também uma situação para lá de especial - e rara. E olha que esse número aumentou. Em 1980, a cada mil grávidas, nove esperavam múltiplos. Hoje, são doze a cada mil, segundo pesquisa global publicada no periódico científico Human Reproduction


Nunca antes houve um número tão grande de gestações gemelares. E isso pode ter algumas explicações. “O principal é o advento das técnicas de reprodução assistida. Sem dúvida, hoje, esse é o principal fator para as gestações múltiplas”, explica o ginecologista e obstetra Wagner Hernandez (SP), especialista em gestações múltiplas e de alto risco. Isso pode acontecer tanto por conta da transferência de dois ou mais embriões de uma só vez, com o intuito de aumentar as chances de sucesso nos tratamentos de fertilização, ou também nos casos em que as mulheres precisam tomar medicamentos para estimular a ovulação. Em segundo lugar, o que mais impacta nesse aumento é a tendência de deixar a maternidade para mais tarde. “Mulheres acima de 35 anos têm chances maiores de gravidez múltipla. Isso acontece porque o ovário da mulher acaba ficando mais ‘preguiçoso’ com a idade. Então, existe um estímulo hormonal maior para que ele funcione. Com isso, em vez de liberar um óvulo, acaba liberando dois ou mais. Por isso, os riscos de ter gêmeos depois dessa idade é maior, mesmo quando a gravidez é espontânea”, aponta o médico.


Outros fatores também influenciam na ocorrência de uma gravidez múltipla, como a correlação genética, sempre por parte da mãe, já que é a liberação ou a divisão dos óvulos que resultam em dois ou mais bebês. “A família do parceiro, nesse caso, não influencia”, esclarece o especialista. Se a mãe tem gêmeos na família - e quanto mais próximos dela forem esses gêmeos (se ela mesma tiver uma irmã gêmea, ou se a mãe ou o pai dela tiverem e assim por diante) - as chances dela aumentam.


Existem ainda fatores ainda mais curiosos, como certas regiões do planeta em que existem mais ocorrências de gêmeos, como algumas tribos na Nigéria, ou raças que costumam ter menos ou quase nenhuma gestação de múltiplos, como os orientais. Alguns estudos já relacionaram características físicas que também podem estar por trás de uma gravidez com mais de um bbeê. “Mulheres mais altas e com sobrepeso têm fator de risco”, indica o médico. Quem já teve uma gestação de gêmeos também tem mais chances de isso acontecer novamente, em uma segunda tentativa. Mas, ainda assim, é raro. A gravidez de feto único é sempre muito mais provável.

A partir de quando dá para saber se são gêmeos?

Atualmente, com os exames de ultrassom, na maioria dos casos, é possível detectar uma gravidez de gêmeos logo no início, já a partir da 6ª semana. “Antigamente, isso era muito menos frequente. A suspeita da gestação gemelar vinha lá pelo terceiro trimestre, quando notava-se a barriga muito maior do que o esperado para aquele tempo de gravidez”, diz Hernandez. “Havia casos de mulheres que descobriam a gemelaridade só no dia do parto. Nascia um bebê e, quando iam ver, tinha mais um. A maneira de diagnosticar era mais pela palpação ou ouvindo o coração em locais diferentes, com frequências diferentes, mas não era uma tarefa fácil”, aponta. Atualmente, com o amplo acesso aos ultrassons, o diagnóstico é precoce, simples e de alta segurança.

Tipos de gestações gemelares: univitelinos, bivitelinos, mono, di…

Se você descobriu que está esperando gêmeos, ainda há várias possibilidades. Isso porque esse tipo de gravidez é dividido em vários subtipos. “A diferença entre os tipos de gêmeos depende, primeiro, da forma em que a gravidez acontece. Depois, existem as classificações distintas, de acordo com o número de placentas e bolsas amnióticas”, explica o obstetra.

Gêmeos univitelinos ou monozigóticos: Quando são formados por um único óvulo e um único espermatozóide. Em algum momento, eles acabam se dividindo. Os gêmeos são idênticos.

Gêmeos bivitelinos ou dizigóticos: São formados por dois ou mais óvulos, fecundados por dois ou mais espermatozóides, formando indivíduos geneticamente distintos.

Então, vêm as classificações pelo número de placentas e bolsas amnióticas. Quando os gêmeos dividem uma mesma placenta, são monocoriônicos - o que só acontece em casos de gêmeos univitelinos. Já quando são duas placentas, são considerados dicoriônicos. Quando eles dividem a mesma bolsa, são considerados monoamnióticos; quando ficam em bolsas separadas, são diamnióticos. “Nos gêmeos bivitelinos, serão sempre duas placentas e duas bolsas. Nos univitelinos, depende do tempo de divisão. Se acontece muito cedo, pode haver duas bolsas e duas placentas, sendo dicoriônica e diamniótica (di/di). Mas o formato mais comum, no caso de univitelinos, é a gestação ser mono/di, ou seja, os bebês compartilham uma placenta, mas têm duas bolsas. Casos mais raros compartilham placenta e bolsa, sendo monocoriônicos e monoamnióticos (mono/mono). Mais raro ainda é quando são gêmeos siameses, ou seja, unidos. Acontece quando há uma divisão bem tardia do embrião”, explica o especialista.

Gravidez em dose dupla, sintomas também em dose dupla

Quem espera dois ou mais bebês ao mesmo tempo, provavelmente, terá sintomas mais intensos. Isso acontece porque há mais hormônios e também um maior volume abdominal. “É mais comum, no início da gestação, as mulheres terem mais enjoo e mais sonolência”, diz Hernandez. “Conforme o útero vai crescendo, vai comprimindo mais a bexiga, então, a frequência urinária fica maior, a falta de ar acontece um pouco mais precocemente [em relação a uma gravidez única] e as contrações têm frequência aumentada”, afirma.

Pré-natal também precisa ter o dobro de atenção - ou até mais

Toda gravidez gemelar é considerada de alto risco. “O potencial de complicação é sempre maior, tanto para a mãe, quanto para o bebê”, ressalta o obstetra. Segundo ele, a estimativa é de que 80% das gestações múltiplas terão algum tipo de intercorrência ao longo dos nove meses. O pré-natal, portanto, precisa de cuidados redobrados.

“Por ser uma gravidez de risco, é preciso ficar alerta às medidas de pressão, ao controle de glicemia e do ganho de peso da mãe. Os hemogramas precisam ser repetidos com mais frequência porque há um risco maior de anemia, o aporte nutricional deve ser diferenciado porque são dois bebês consumindo o tempo inteiro… Além disso, é necessário ter atenção com a parte emocional, pelo risco de depressão, tanto na gravidez, quanto no pós-parto”, exemplifica.

Quanto aos bebês, a maior preocupação é o risco de prematuridade. “Cerca de 50% dos gêmeos vão nascer antes das 37 semanas, ou seja, serão prematuros. A idade gestacional média de nascimento, nesta situação, é de 36 semanas. E essa é nossa luta diária, tentar minimizar a chance de isso acontecer”, aponta o especialista. Para isso, é preciso manter um acompanhamento do colo do útero via transvaginal, com medidas seriadas, por exemplo. Nas mulheres que apresentam colo de útero curto, o risco de os bebês nascerem antes da hora é maior. Eventualmente, são necessárias medidas de prevenção, como uso de progesterona, indicação de repouso ou até a cirurgia de cerclagem, que é quando os médicos dão pontos no colo do útero. A inserção de pessário, um dispositivo inserido na vagina para aumentar o suporte, também pode ser uma opção.

“Além disso, também acompanhamos o crescimento desses bebês mais de perto. A depender do número de placentas e bolsas, existe uma necessidade de ultrassons quinzenais”, aponta o médico. A possibilidade de um problema conhecido como síndrome da transfusão feto-fetal também é um ponto de atenção no caso de bebês que dividem a mesma placenta. “Isso acontece quando há um desbalanço entre a placenta, então, um dos fetos recebe um fluxo diferenciado e recebe mais nutrição, mais líquido, mais sangue. Se nenhum tipo de intervenção for feita, há o risco de perder os dois. “Hoje, existe uma cirurgia intra-uterina, com laser, em que é possível queimar essas comunicações de veias e artérias, minimizando esse risco e fazendo com que as crianças possam ter uma evolução normal até o final da gestação”, explica.

Gêmeos podem nascer de parto normal?

A princípio, grávidas de gêmeos podem, sim, ter um parto normal seguro, mas existem algumas condições e pontos de atenção para isso. O primeiro ponto, segundo Hernandez é respeitar o desejo da mãe, ou seja, ela precisa querer que isso aconteça. Junto disso, vem a presença de obstetra e equipe com experiência em partos gemelares. Depois, é preciso de um contexto favorável. “O primeiro bebê que vai nascer precisa estar sempre com a cabeça para baixo, por exemplo. Se o primeiro estiver sentado, optamos pela cesariana. Se estiver cefálico, a posição do segundo não importa tanto, desde que eles tenham o peso semelhante. Desta maneira, o primeiro bebê ‘testa’ o canal de parto e o segundo, mesmo estando pélvico ou transverso, consegue passar com segurança”, pontua o médico.

Ele lembra que existem também algumas particularidades importantes na assistência. “Um parto normal de gêmeos deve ser feito sempre dentro de um hospital, monitorando os dois bebês o tempo todo, sempre com anestesia - porque eventualmente manobras podem ser necessárias e fazer isso sem anestesia é complicado”, destaca. “Tem alguns cuidados adicionais diferentes de um parto único, mas é plenamente possível ter um parto normal de gêmeos, sim”, completa.

Depois de passar por tudo isso, com todo o cuidado e atenção, é hora de comemorar seus bebês nos braços (aliás, haja braços!). A recompensa por tanta preocupação vem em forma de felicidade em dose dupla, tripla ou até mais.

Fonte:https://revistacrescer.globo.com/Gravidez/noticia/2022/07/gravidez-de-gemeos-tudo-o-que-voce-precisa-saber.html

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